quarta-feira, 29 de abril de 2009

BATISTA ESCREVE SOBRE CHICO CRENTE


NA SEMANA QUE COMPLETA 3 ANOS DA MORTE DO VELHO AMIGO E COMBATENTE CHICO CRENTE, REPRODUZO UM ARTIGO QUE ESCREVI NO DIA QUE TOMEI CONHECIMENTO QUE SEU CORAÇÃO ACABARA DE PARARCHICO CRENTE, UM GRANDE CAMARADA!
24 de Abril, dia do aniversário de Tarauacá, era meio dia, o telefone toca, em seguida vem logo a noticia: “Batista aqui é a Célia, o papai terminou de morrer”.
Não foi qualquer notícia, fiquei sem resposta. Morre aos 84 anos, um grande companheiro, liderança sindical e militante leal do Partido Comunista do Brasil. Conheci o Chico Crente em 1989, em uma reunião do sindicato, no seringal Sumaré.
No meio dos trabalhadores, identifiquei um velho com uma fisionomia diferente, uma expressão forte, mais ou menos parecida com um índio Apache.Uma voz mansa e de sábio, como se soubesse todas as nossas intenções, começou a falar tudo que eu queria ouvir.
Organizar o sindicato, abolir o pagamento da renda, fortalecer a voz dos trabalhadores rurais para lutar por transporte, saúde, educação e dignidade. Saí daquela reunião, certo de que tinha encontrado uma liderança e um amigo para lutar por um Tarauacá mais justo.
Foi exatamente isso que aconteceu. Chico foi um lutador fiel até o último dia da sua vida. Francisco Máximo Moura, o Chico Crente, era brincalhão, observador e leal.
Cumpria rigorosamente todas as tarefas que eram lhes designadas.
Nos momentos mais difíceis, nas minhas andanças pelo Rio Tarauacá, foi meu principal companheiro. Sem ele, a viagem ficava sem graça e os sonhos sem ousadia. São muitas as suas histórias, impossível de recordar todas nesse momento de tantas saudades.
Chico nunca faltava uma reunião, no dia certo ele chegava, remando ou varejando, chovendo ou fazendo sol.Nas campanhas eleitorais do partido, ele era o mais entusiasmado, passava dias viajando Rio acima, como um viajante da esperança, um militante Máximo.
Um dia, a pedido do partido, Chico Crente aceitou se candidatar a vereador pelo município do Jordão. No dia da eleição, avaliando que suas chances não eram muito reais, decidiu votar em outro candidato a vereador do partido, a maior surpresa foi quando terminou a apuração, Chico perdeu por um voto! Se tivesse votado nele mesmo seria vereador.

O PCdoB participava de uma coligação com outros partidos e ele achava que o partido não podia terminar aquela eleição sem pelo menos um vereador eleito.

Chico enxergava longe, via que os interesses do partido e do povo eram bem maiores que os seus.Certo dia, em uma manifestação dos trabalhadores rurais, reivindicando melhorias para a zona rural, eu, junto com outros companheiros, fomos presos pela polícia, a cidade foi sitiada e ninguém podia passar na rua da delegacia.

Chico Crente, com sua paciência peculiar, tentou romper o bloqueio, o soldado perguntou a ele: “O senhor quer ir pra casa ou quer ir preso”?

Ele, com firmeza e a mesma paciência, respondeu: “Vocês já levaram meus companheiros, podem me levar também”.

Chico Crente era assim, leal, camarada, um exemplo de militante, que deixa muita saudade para todos nós.

Vai em paz, meu IRMÃO. Nós vamos continuar aqui, com teus amigos, lembrando e espalhando o teu exemplo e a tua lealdade.



Blog Raízes e Tronqueiras

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